TV Globo: há 60 anos de mãos dadas com o Brasil
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O jornalista Luis Soares, que integra o time de Imprensa e Comunicação da FRM, é um apaixonado pela TV Globo e sua história. Escreve, como telespectador, uma homenagem sensível, para celebrar, de forma única e pessoal, o que viu e viveu ao longo dos seus 32 anos
1965. A população total do Brasil soma 83 milhões de pessoas. Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa mudam o comportamento dos adolescentes ao som das guitarras da Jovem Guarda. E quando a televisão brasileira estava prestes a completar 15 anos, eu, a TV Globo, canal 4 do Rio de Janeiro, por meio de grande esforço do meu fundador, o jornalista e empresário Roberto Marinho, nasci, no dia 26 de abril, para marcar para sempre os rumos da comunicação do país. Vamos relembrar um pouco da minha história, da qual você, caro telespectador, é peça fundamental?
Entretenimento: o compromisso de divertir o público, independentemente da idade
Quando eu estreei, às 11 horas da manhã daquela segunda-feira, a minha primeira atração foi o Uni Duni Tê, programa infantil apresentado por Fernanda Teixeira, a tia Fernanda, em um cenário que reproduzia uma sala de aula, ensinava as crianças sobre a importância de aprender a ler, escrever e se alimentar bem. Mas isso foi apenas o começo de tudo. Porque ao longo da minha jornada, os pequenos sempre tiveram um lugar especial na minha programação. Seja por meio do Capitão Furacão, da Vila Sésamo, das histórias criativas de Monteiro Lobato no Sítio do Picapau Amarelo, das peripécias dos Trapalhões, da divertida parceria entre Shazan, Xerife e Cia., dos desenhos animados do Globo Cor Especial e da TV Globinho, dos games apresentados pela Angélica e claro, do fenômeno cultural Xuxa Meneghel, nossa eterna rainha, sempre acreditei que o mundo jamais pode perder a leveza que só os baixinhos carregam no coração. Afinal, a vida ganha muto mais brilho pelos olhos deles, não é mesmo?
Dramaturgia: a diversidade cultural diante da TV
É impossível contar a minha história muito bem-sucedida ao longo desses 60 anos, sem citar a minha extensa produção na dramaturgia. Mas isso só aconteceu porque sempre tive, ao meu lado, um elenco de peso somado a autores e diretores de igual gabarito. No mesmo dia em que entrei no ar, lancei minha primeira novela, das mais de trezentas que eu produziria em seis décadas. Chamava-se Ilusões Perdidas, protagonizada por Reginaldo Faria e Leila Diniz. Mas esse foi só o ponto de partida para o início de uma verdadeira fábrica de sonhos e uma fila de campeões de audiência, que fizeram o Brasil ficar grudado em frente à televisão. Da lista de Janete Clair, não dava para perder Irmãos Coragem, Selva de Pedra e Pecado Capital. De Dias Gomes, era impossível ir dormir sem assistir ao O Bem Amado e ao fenômeno Roque Santeiro e os seus tipos bem brasileiros. Com Gloria Perez, eu e o meu público aprendemos um pouco sobre o jeito se ser e de viver do Oriente Médio e discutimos a dor do vício das drogas na novela O Clone. Manoel Carlos nos trouxe suas Helenas e aprendemos que os problemas causados pelo alcoolismo e doenças graves como o câncer são temas que devem ser abordados na novela sim, e devem estar em pauta porque, afinal, folhetim também é informação. Com Cassiano Gabus Mendes, entendemos que o horário das 19 horas com suas Locomotivas e Plumas e Paetês, foi feito para muitas gargalhadas, não importa se você é brega ou chique. Silvio de Abreu seguiu a mesma cartilha com Guerra dos Sexos e Cambalacho. Mas, em 1995, quando foi escalado para o horário das 20 horas, o mesmo Silvio das comédias rasgadas colocou o Brasil inteiro em suspense ao nos fazer questionar: “Quem Será A Próxima Vítima?”
Com Benedito Ruy Barbosa, conhecemos o Brasil rural e a cultura italiana numa seleção de sucessos como Renascer, O Rei Do Gado, Terra Nostra e Cabocla. E a Ivani Ribeiro, meus telespectadores, que já estavam acostumados a praticar a sua fé todos os domingos durante a transmissão da santa missa, proporcionou um novo modo de ver o mundo. Durante a exibição da novela A Viagem, ela procurou mostrar que a vida continua em um outro plano e que a morte está longe de ser o fim. Gilberto Braga revelou, com a novela Dancin Days, que ir para a discoteca sábado à noite era bom demais. Já a Escrava Isaura nos levou a revisitar um passado vergonhoso do Brasil. Em Água Viva, Gilberto fez os conservadores entenderem que o topless não era nenhum bicho papão e sim, um grito de liberdade feminina. E, em Vale Tudo, além de discutir questões relativas à ética, ele nos fez uma pergunta que virou até motivo de aposta: “Quem matou Odete Roitman?”
A Tieta de Agnaldo Silva virou conversa obrigatória em qualquer esquina e o realismo fantástico tomou conta do país em A Indomada e Pedra Sobre Pedra. Com a dupla Duca Rachid e Thelma Guedes, o Nordeste roubou a cena em Cordel Encantado. Antônio Calmon fez uma desconstrução ao mostrar que os vilões nem sempre são tão feios quanto parecem e que o terror de Vamp, na verdade, não passava de total diversão.
Ao assistir ao trabalho de Walcyr Carrasco, percebemos que retratar outra época, com uma boa dose de pastelão, é a receita perfeita para o horário das 18 horas. João Emanuel Carneiro mostrou as classes C,D e E ,seus sonhos e hábitos em Avenida Brasil. E se você perdeu ou quiser rever algum desses clássicos, fique tranquilo, pois o Vale a Pena Ver de Novo está aí diariamente para resolver o seu problema. E será que só de novelas vive a minha dramaturgia? Claro que não. Vieram também os Casos Especiais, o Brava Gente, os juvenis Ciranda Cirandinha, Malhação, Armação Ilimitada e Sandy e Júnior. Tivemos também o eletrizante Plantão de Polícia, a aventureira Carga Pesada e minisséries maravilhosas como Grandes Sertão Veredas, Anos Dourados, Anos Rebeldes, Engraçadinha, O Primo Basílio, Tenda dos Milagres, Presença de Anita, Os Maias, O Tempo e o Vento, O Memorial de Maria Moura, A Casa das Sete Mulheres, Agosto, JK e tantos outros sucessos, que só se tornaram viáveis graças ao talento e dedicação de uma grande equipe, que não deixa nada a desejar a nenhuma produção internacional e fazem do Brasil, uma referência quando o assunto é dramaturgia. Para se ter uma ideia, já vendi mais de 150 das minhas obras para o exterior. E com todo esse reconhecimento, eu só posso dizer a cada ator e atriz que têm a grande generosidade de dividir o seu enorme brilhantismo comigo, duas palavras: muito obrigada!
Programas de auditório e variedades: a hora e a vez do povo
Entre todas as atrações apresentadas em uma emissora de televisão, o programa de auditório é a que tem mais calor humano, pois é com ele que o povo tem mais chance de se abrir, dizer o que pensa e sente, se manifestar de alguma forma. E desde o meu início, eu pude contar com comunicadores inigualáveis na arte de dominar uma plateia. Podemos começar por Chacrinha e seus calouros, que davam o tom da diversão das tardes bagunceiras de sábado. Moacyr Franco esbanjava versatilidade. Dercy Gonçalves era pura irreverência. Paulo Gracindo distribuía muitos prêmios em dinheiro no 8 ou 800. Sergio Mallandro e Faustão eram só improviso e alegria. Fernanda Lima ensinou que sexo também é assunto para o horário nobre. Regina Casé abriu espaço para todas as classes e ritmos no Esquenta. Xuxa e o seu Planeta redondinho arrancaram impensáveis confissões dos famosos no seu temido quadro da intimidade. Patrícia Poeta me ensina, todos os dias, no Encontro, que temas delicados também podem ser tratados com tranquilidade. Ana Maria Braga, além de transmitir lindas mensagens de otimismo, me dá a impressão de que cozinhar é a coisa mais fácil do mundo. Luciano Huck me mostra que programa de auditório pode ser um lugar para fazer a diferença na vida das pessoas. Pedro Bial me instrui e me diverte com suas conversas sempre enriquecedoras. Assim como Jô Soares fez brilhantemente durante dezesseis anos. Com O É de Casa de Maria Beltrão e companhia, o meu final de semana já começa em altíssimo astral. Marcos Mion me dá a prova de que alegria e emoção podem sim ocupar o mesmo espaço. Serginho Groisman traz sempre convidados com um papo interessante e música da melhor qualidade para o meu sábado à noite. E quando se fala em programa de auditório, em entretenimento verdadeiramente popular, é impossível não falar daquele que foi o professor, que fez do auditório um verdadeiro espetáculo de alegria, o maior de todos os apresentadores: Silvio Santos. Entre 1965 e 1976, durante oito horas seguidas, as minhas tardes de domingo eram comandadas pela gargalhada, pelos bordões e pelo carisma desse mestre inesquecível que me ensinou tanto e que fez muito pelo nosso país.
E por falar em domingo, imagine poder assistir a tudo que eu, TV Globo, apresentava de melhor, numa só atração? Pois em 1973, o genial Jose Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, junto com uma equipe super competente, resolveu criar um programa que tinha mágica, mas não era circo. Tinha reportagem, mas não era um telejornal. Tinha gols, mas não era esportivo. Tinham cantores, tanto que o videoclipe no Brasil surgiu lá, mas não era exatamente um musical. Então o que era? Era o Fantástico, o show da vida, uma revista eletrônica semanal que só tinha um lema que permanece até hoje: variar sem renunciar à qualidade.
E o Vídeo Show, que ganhou uma edição especial no meu aniversário, assim como outras atrações? Sempre que eu queria entender um pouco de como funcionam os bastidores da televisão e rir com o Falha Nossa dos meus atores preferidos, era só sintonizar no programa.
E se a palavra é inovação, eu nunca tive medo de arriscar. Muito antes do surgimento da internet, eu fui a primeira a criar um programa de TV interativo. Era o Você Decide, onde toda semana os meus telespectadores telefonavam para escolher o final da história.
Os Grandes Musicais: sempre sintonizada na parada de sucessos
A música sempre esteve presente na minha programação. Lá no meu início, na década de 1960, eu fui uma pioneira quando criei o Concertos para a Juventude, um programa em que diferentes maestros apresentavam música clássica para os telespectadores nas manhãs de domingo. Outro marco que eu me orgulho entre os anos de 1960 e 1980 foram os festivais. Em pleno Maracanãzinho, futuras estelas da MPB, ainda em começo de carreira protagonizaram momentos históricos. Foi lá que Chico Buarque lançou a poética Carolina e Milton Nascimento a lindíssima Travessia. No mesmo festival, Caetano Veloso mandou o recado: É Proibido Proibir. Foi lá ainda que Ivan Lins fez todo mundo vibrar com O Amor é o meu País, que Tony Tornado incendiou com a suingada BR3 e foi através de mim, para todo o Brasil, que em 1968, Geraldo Vandré fez o ginásio inteiro cantar Pra Não Dizer que Não Falei das Flores, considerado até hoje, o maior hino de resistência contra a ditadura militar que governava o Brasil naquele momento. Ainda nos meus festivais surgiram também o Raul Seixas, o Djavan, a Sandra Sá, o Eduardo Dussek o Oswaldo Montenegro e a personalíssima Tetê Espíndola.
Depois de tantos anos sendo uma vitrine musical, a era dos festivais chegou ao fim. Mas o meu interesse pela música, independente do gênero, continuou enorme. Se um artista queria se lançar nacionalmente, era só aparecer no Globo de Ouro e no dia seguinte o Brasil inteiro já estava cantando sua música. Nesse meio tempo, surgiram também o Som Brasil, o Clip Clip, o Rock in Concert, o Disco Show, o Mixto Quente, o Geração 80, o Estação Globo, o Saudade Não Tem Idade, o Grandes Nomes, o Brasil Pandeiro, a transmissão de grandes eventos como o Rock in Rio e o carnaval, o Lollapaluza, o Circuito Sertanejo, o Samba Pagode e Cia, o programa Amigos, os shows internacionais e, mais recentemente, o Viver Sertanejo, o Só Toca Top e o The Voice Brasil, porque apostar em novos talentos, também faz parte do que eu sou. Tudo isso, sem esquecer, claro, dele, Roberto Carlos, que, com seus inúmeros sucessos, desde 1974, é a trilha sonora natalina dos brasileiros que aguardam, ansiosamente, os seus especiais de fim de ano. Porque para mim, quem é rei, nunca perde a majestade.
Humor: Viva os reis do riso
Ao longo desses meus 60 anos de história, eu sempre levei a arte do riso muito a sério. E para isso, eu contei com verdadeiros gênios do humor durante todo esse tempo. Para a festa da felicidade vieram o Chico Anysio e seus mais de duzentos personagens no Chico City e Chico Anysio Show, o Jô Soares e o seu humor crítico no Planeta dos Homens e no Viva o Gordo, chegaram também o humor político do Caseta e Planeta, Renato Aragão e seus amigos trapalhões, uma grande família comandada por Lineu e Dona Nenê, uma escolinha nada convencional capitaneada pelo professor Raimundo, uma família tão acomodada que... sai de baixo, uma TV Pirata que revolucionou o modo de fazer rir, um casal no mínimo diferente que de normal só tinha o nome, uma galera que vivia entre tapas e beijos, tinha ainda a Marinete, uma diarista que ia muito além de limpar a casa das pessoas, um pessoal que vivia na base do toma lá da cá e todos os moradores do prédio que balança, balança, mas não cai. Foi uma Zorra Total que não vai acabar nunca. Seja com as histórias no mínimo pitorescas contadas pelo Porchat, nas trolagens sem fim da Tatá Werneck ou nas tiradas incríveis do Paulo Vieira e, dentro das mudanças culturais que cada época exige, sempre haverá tempo para dar uma boa risada.
Uma pipoca, um refrigerante e muitos filmes em cartaz
Você já pensou poder ver os maiores astros e estrelas do cinema sem nem precisar sair de casa? Então, desde 1965, eu proporciono isso ao meu telespectador. Comecei com a Sessão das 2. E depois, virei uma referência, ao se falar de bons filmes com a icônica Sessão da Tarde. Para quem pode ficar acordado até de madrugada, eu criei a Sessão de Gala, o Supercine e o Corujão. Para as tardes de domingo tem a Temperatura Máxima e de noite, o Domingo Maior. E que tal curtir muita ação na segunda-feira, depois da novela com a Tela Quente? É, se você é cinéfilo, opção é o que não falta.
Telejornalismo: o dever de informar
Se tem uma coisa da qual eu me orgulho, é saber que as pessoas sempre confiaram em mim quando estão em busca da verdade em forma de notícia. E desde o meu primeiro dia de transmissão, eu checo detalhe por detalhe, para levar ao meu público, tudo da maneira mais fiel possível em cada matéria, em cada entrada ao vivo, em cada reportagem. Foi assim, já no primeiro jornal diário, o Tele Globo. E segui da mesma maneira com o UltraNotícias. E, desde 1969, quando criei o primeiro telejornal em rede no país, tudo que acontece no Brasil e no mundo vai ao ar no Jornal Nacional. Ou também no Jornal da Globo, no Bom Dia Brasil, no Hora 1, nos telejornais locais, ou no Jornal Hoje. Enfim, não importa o dia, o lugar e a hora, a informação sempre foi uma prioridade para mim. Informação que pode ser dada no formato tradicional dos telejornais, ou então nos meus programas jornalísticos, desde os tempos de Jacinto Figueira Junior, O Homem do Sapato Branco e de Amaral Neto. Ou com a leveza do Globo Repórter e seus documentários incríveis. Ou com a calmaria da vida campestre no Globo Rural. Ou quando durante muitos anos eu denunciava os mais diversos crimes no Linha Direta. Sem deixar de citar também o pioneirismo do Profissão Repórter, que mostra, a jovens jornalistas, como trilhar os desafiantes caminhos da reportagem, sob supervisão e o olhar sensível de Caco Barcelos.
E toda essa credibilidade foi construída, claro, com o meu empenho, mas também graças a um vasto time de repórteres e apresentadores da maior competência. Dessa lista podemos citar Hilton Gomes, Heron Domingues, Joelmir Beting, Lilian Witte Fibe, Mônica Waldvogel, Marcos Hummel, Marcia Mendes, Renato Machado, Chico Pinheiro, Heraldo Pereira, Renata Capucci, Leilane Neubarth, Mylena Ciribelli, Tiago Leifert, Glenda Kozlowski, Fernanda Gentil, as icônicas duplas Cid Moreira, Sérgio Chapelin, William Bonner e Fátima Bernardes, Sandra Annemberg e Evaristo Costa, Eliakim Araújo e Leila Cordeiro, Carlos Nascimento, Berto Filho, Marcelo Rezende, Domingos Meireles, Roberto Cabrini, Hélio Costa, Renata Ceribelli, Leda Nagle, Tadeu Schmidt, Pedro Bial, Zeca Camargo, Ana Paula Padrão, Renata Lo Prete, Celso Freitas, Léo Batista, Maria Júlia Coutinho e Poliana Abrita, Renata Vasconcelos, Patrícia Poeta e aquela que fez de cada reportagem uma verdadeira aula que ficará para sempre guardada nos corações daqueles que primam por um noticiário de qualidade: Glória Maria.
Esporte: Torcer até o fim
Se tem uma coisa que eu sempre gostei, independente da modalidade, é de esporte. Desde os campeonatos estaduais, ao brasileirão feminino e masculino de futebol, ou na Liga Mundial de vôlei, ou durante muitos anos ao transmitir a Fórmula 1, ou ao vibrar em grandes eventos como o Pan Americano, as olimpíadas e a Copa do Mundo, o meu lema é um só: desistir jamais, torcer até o fim. E tanta gente segurou a minha mão nos momentos em que a minha respiração ficava presa. Lá no começo, era o Geraldo José de Almeida que conduzia o espetáculo. Depois chegaram o Luciano do Vale, o Galvão Bueno e sua conexão sem precedentes com a seleção, o Cleber Machado, o Oliveira Andrade, o Luis Roberto, o Osmar Santos, o Alex Escolar, que já divertia o público no Globo Esporte e no Esporte Espetacular e veio também, a Renata Silveira, pois essa ideia de que narração esportiva é só coisa de homem, está bem ultrapassada.
Reality Shows: os anônimos se transformam em celebridades
Quem nunca sonhou em ficar famoso e ganhar um bom dinheiro? Pois então: lá no ano 2000, quando praticamente ninguém sabia o que era isso por aqui, eu criei os reality shows. O primeiro, foi o No Limite. Depois lancei também o Jogo, o Fama, o Hipertensão, o Superstar, o Estrela da Casa, o Popstar, e, em 2002, aquele que até hoje, é assunto em qualquer canto do país: o Big Brother Brasil, programa em que anônimos e atualmente famosos duelam entre si, com o objetivo de alcançar a fama e levar a bagatela de quase três milhões de reais. Nada mal, né?
Responsabilidade Social: o braço direito dos brasileiros
No verão de 1966, quando eu ainda não tinha completado nem um ano de vida, uma enchente devastadora, de cinco dias, deixou mais de duzentos mortos e cinquenta mil desabrigados no Rio de Janeiro. Preocupada com o sofrimento dos cariocas, eu iniciei uma campanha na minha sede, no Jardim Botânico, para que as pessoas colaborassem e doassem tudo que é preciso para sobreviver em uma situação grave como essa. A iniciativa foi um sucesso e assim, eu ganhei o reconhecimento dos moradores da cidade.
Durante todos esses anos da minha existência, eu me sinto muito feliz por ser uma verdadeira defensora da democracia. Tanto que, a cada nova eleição, abro espaço para candidatos das mais variadas vertentes e ideologias partidárias falarem sobre seus projetos de governo e promovo debates para ajudar o eleitor que me assiste, a tomar a decisão certa na hora de votar. Até porque, acredito que consciência política se cria inclusive, por meio da televisão.
Sempre atenta às desigualdades sociais do meu país, criei em 1985, o Criança Esperança, projeto que, há 40 anos, beneficia milhares de meninos e meninas carentes em todo o Brasil e ressignifica a vida de cada um deles. E será que tem um jeito de diminuir essas desigualdades sociais? Sim, fazer da educação uma aliada. E em projetos como o Globo Ecologia, o Globo Ciência, o Ação e o Telecurso, eu sempre acreditei que, com o acesso ao conhecimento, a gente muda o mundo.
Representatividade: a televisão feita para todos e todas
Conectada com as mudanças da sociedade que cada época traz, eu sempre procurei dar voz e fazer o meu público refletir sobre questões que até então não eram muito abordadas pela mídia. Tanto que, em 1979, eu criei um seriado que discutia temas como o divórcio, recém-aprovado no Brasil, a liberdade sexual, a emancipação feminina e a desigualdade salarial entre os gêneros: era o Malu Mulher, protagonizado por Regina Duarte e que depois deu origem ao programa diário TV Mulher, comandado por Marília Gabriela e Ney Gonçalves Dias.
Um mal que eu sempre combati, é o preconceito. Em 1985 por exemplo, eu inovei ao colocar como par romântico na novela Corpo a Corpo, um casal interracial, vivido por Marcos Paulo, um ator branco e Zezé Mota, uma atriz negra. E de lá para cá, aumentei consideravelmente o número de protagonistas pretos nas minhas produções. Bem como tenho abordado cada vez mais as temáticas LGBTS. Lá em 1993, Maria Luísa Mendonça, interpretou Buba, um personagem intersexo na novela Renascer. No ano de 2013, em Amor à Vida, Mateus Solano e Thiago Fragoso deram o primeiro beijo gay em horário nobre. E assim também foi feito com as consagradas atrizes Fernanda Montenegro e Nathália Timberg na novela Babilônia. Em 2017, a novela A Força do Querer trouxe Ivana, primeiro personagem transgénero das minhas novelas. E com o entendimento de que o ser humano jamais deve ser visto pelas suas limitações, na segunda versão da novela Mulheres de Areia, exibida em 1993, eu já combatia o capacitismo, quando Tonho da Lua, interpretado por Marcos Frota, encantou o Brasil inteiro com a sua inocência e com os castelos que gostava de fazer na praia. Em Páginas da Vida, de 2006, eu reforcei o meu compromisso com a pauta da inclusão, quando Clarinha, vivida por uma atriz com Síndrome de Down, emocionou o país. E numa percepção clara de que o respeito às diferenças é sempre a melhor escolha, eu somei ao meu time de feras, a repórter Flávia Cintra e o apresentador Fernando Fernandes, duas pessoas que fazem das suas deficiências físicas, um verdadeiro ensinamento e a certeza de que as dificuldades existem sim, mas podem e devem ser superadas diariamente.
E o Futuro? Já começou
Depois de revisitar toda a minha história, tão rica e relevante para o povo brasileiro, o que eu posso esperar do futuro? Bem, eu sei que as coisas mudaram muito, mas espero que daqui a 60 anos, seja na TV convencional, no computador, ou na tela de celular, a minha relação com você meu ilustre telespectador, continue firme, forte e renovada. Pois se a concorrência aumentou, pode ter certeza de que me esforço todos os dias para levar até você, o melhor que eu sei fazer: divertir, informar, emocionar. Mesmo porque, em qualquer época, sempre teremos no canal 4, no Rio de Janeiro, cidade onde nasci, e nas minhas 123 emissoras espalhadas pelo Brasil ou pelo mundo, com o Globoplay, as minhas famosas, criativas e coloridas vinhetas, que fazem parte da vida da nossa gente e do imaginário nacional. Plim Plim!