Notícia: Inscrições para o Prêmio Jovem Cientista entram na reta final

Estudantes e pesquisadores têm até o dia 31 de julho para enviar projetos: tema da edição valoriza ciência como aliada no enfrentamento à crise climática 

As inscrições para a 31ª edição do Prêmio Jovem Cientista entraram na reta final. Estudantes do ensino médio, ensino superior, além de alunos que estejam cursando ou já tenham concluído mestrado e/ou doutorado podem submeter seus projetos de pesquisa até o dia 31 de julho.  

O prêmio tem, ainda, outras duas categorias: mérito institucional, que reconhece instituições de ensino cujos estudantes se destacaram na premiação, e mérito científico, que reconhece um pesquisador de destaque na área temática da edição. Neste ano, o tema do Prêmio Jovem Cientista é: "Resposta às Mudanças Climáticas: Ciência, Tecnologia e Inovação como Aliadas”.  

É possível conferir mais informações sobre as categorias e requisitos para participação no edital, disponível aqui. Para participar, os estudantes devem inscrever seus projetos de pesquisa, conforme o regulamento de cada categoria.  

Estudantes de graduação ou pós-graduação podem desenvolver projetos em onze linhas de pesquisa. Já os estudantes do ensino médio devem elaborar seus trabalhos científicos dialogando com, ao menos, um dos seis eixos previstos no edital.  

O prêmio é uma iniciativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em parceria com a Fundação Roberto Marinho, conta com patrocínio master da Shell e tem apoio de mídia da Editora Globo e do Canal Futura. 

O impacto das mudanças climáticas nos direitos básicos 

Em uma decisão histórica, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) declarou que os Estados têm responsabilidade direta no enfrentamento da crise climática. Publicada no início de julho, a Opinião Consultiva nº 32 marca um avanço inédito no campo do direito internacional ao afirmar que a emergência climática ameaça de forma estrutural os direitos humanos no continente americano — e, por isso, impõe obrigações concretas aos governos. 

Pela primeira vez, uma corte internacional reconhece que o direito a um clima estável é parte integrante do direito a um meio ambiente saudável. A decisão estabelece também que os Estados devem adotar medidas concretas, guiadas pela ciência, por princípios de justiça climática e pelo conhecimento das comunidades locais, especialmente povos indígenas e populações vulneráveis. 

Para Mariana Vale, professora do Departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e bolsista de produtividade do CNPq, a evidência científica tem um papel fundamental no enfrentamento às mudanças climáticas. “A ciência nos instrumentaliza para identificar impactos e construir políticas eficientes para minimizar os efeitos das mudanças climáticas e aumentar a resiliência dos sistemas naturais e humanos. A ciência fornece uma base de evidências que pode subsidiar decisões públicas, com foco na eficiência econômica e na justiça social. Com isso, é possível auxiliar o poder público para que este tome decisões mais acertadas”. 

Por isso, estimular a produção científica e sua divulgação junto à sociedade são passos fundamentais, incentivados pelo Prêmio Ciência para Todos. “Um prêmio como esse é muito importante para reconhecer e valorizar o conhecimento produzido pelos estudantes e pesquisadores. É uma forma de estimular a produção científica no país”, avalia Mariana Vale, que coordena a subdivisão de biodiversidade da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima), entidade que apoia as ações do governo brasileiro na área.

Pessoa sorridente com mochila de trilha está encostada em uma placa de madeira que indica “Morro do Marco – 1 km Açu | 6,5 km Sino”. Ela veste calça clara, camiseta azul e boné preto, e carrega bastões de caminhada presos à mochila. O cenário ao fundo é uma paisagem montanhosa imponente, com picos recortados, vegetação rasteira e céu parcialmente nublado. A luz do sol realça as cores do ambiente natural, transmitindo sensação de tranquilidade e conquista.
Mariana Vale é professora da UFRJ e bolsista de produtividade do CNPq. Foto: Arquivo pessoal.

A decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos traz à tona um entendimento cada vez mais consolidado entre especialistas: as mudanças climáticas não são apenas uma questão ambiental ou técnica — são, antes de tudo um desafio à garantia dos direitos humanos. Eventos extremos como secas prolongadas, enchentes, ondas de calor e elevação do nível do mar têm impactos diretos sobre o acesso à água potável, à moradia, à alimentação e à saúde.  

As consequências das mudanças no clima recaem de forma desproporcional sobre populações historicamente marginalizadas — que pouco ou nada contribuíram para a situação atual. A crise climática agrava desigualdades existentes e compromete o exercício de direitos fundamentais, como o direito à vida, à saúde, à educação e ao desenvolvimento.  

“As questões de justiça climática são transversais a todas as pesquisas sobre mudanças climáticas. Se o pesquisador estiver atento e bem-informado, consegue incorporar essas dimensões nos métodos, nas análises e nas soluções propostas. No Brasil, com suas desigualdades, isso é essencial e urgente” argumenta Mariana Vale.  

Soluções baseadas na natureza e a adaptação das cidades 

“São soluções para problemas humanos que utilizam ecossistemas naturais, restaurando ou conservando áreas para manter serviços ecossistêmicos como regulação climática, retenção de água, proteção costeira e polinização. A ampliação de áreas verdes, por exemplo, ajuda a mitigar os riscos de enchentes, amenizar os efeitos de ondas de calor e de erosão costeira”, explica a pesquisadora.  

Essas soluções podem auxiliar as cidades a se adaptar a eventos climáticos mais intensos e frequentes. Mas Mariana Vale destaca a necessidade de um olhar sensível a desigualdade com que elas são implementadas nos territórios. “As áreas onde você tem maior arborização geralmente são as áreas mais ricas das cidades, o que gera um desafio de justiça climática. Trazer essas soluções para as áreas vulneráveis é essencial para reduzir os impactos e aumentar a equidade”.  

Para a pesquisadora, é necessário um recorte de classe, gênero e raça para discutir o problema e pensar em soluções. “São as pessoas mais pobres, as mulheres e as pessoas negras que estão mais vulneráveis às mudanças climáticas, mais expostas a ondas de calor, a situações de desastre, de deslizamento e de inundação. São pessoas que vivem em residências e territórios que não estão preparados para enfrentar eventos climáticos mais intensos”, completa. 

Além de mitigar os impactos das mudanças climáticas, as soluções baseadas na natureza também promovem benefícios sociais, econômicos e de saúde pública. A criação de parques, hortas urbanas e corredores ecológicos, por exemplo, pode melhorar a qualidade do ar, reduzir o estresse da população e fomentar a biodiversidade urbana. No entanto, para que essas ações sejam eficazes, é fundamental que estejam integradas ao planejamento urbano e contem com a participação das comunidades, promovendo um modelo de desenvolvimento mais justo e sustentável. 

Mudanças climáticas e os riscos à saúde 

As mudanças climáticas impactam a saúde de diversas formas. Alguns problemas estão relacionados ao aumento da temperatura como ocorre, por exemplo, com as doenças cardiovasculares agravadas pelo calor extremo. “Você tem um aumento de casos e de mortalidade em decorrência da temperatura”, aponta a pesquisadora. 

Mariana também destaca os problemas de saúde desencadeados a partir de desastres climáticos. Além das mortes e ferimentos ocasionados por deslizamentos e enchentes, as pessoas ficam expostas à água contaminada, por exemplo, provocando um aumento de doenças transmitidas por vetores, como a dengue, e a propagação de doenças de veiculação hídrica, como a leptospirose.  

Com as mudanças climáticas, há também uma redistribuição geográfica dos animais. “Começa a ter encontro de espécies que não se encontravam e a troca de vírus entre elas. Isso aumenta muito a chance de você ter emergência de novas doenças virais e pandemias. Esse tipo de situação a gente espera que aumente bastante”, afirma.  

Como reforça a pesquisadora, as mudanças climáticas também afetam a segurança alimentar e hídrica das pessoas, prejudicando, consequentemente, a saúde destas. “Em muitas regiões você tem situações de seca ou de inundação, por exemplo, que impactam a produção de alimentos e isso tem consequências para a situação nutricional”.   

Outra frente de prejuízo, ressaltada por Mariana Vale, está no campo da saúde mental, especialmente casos de ansiedade climática (ou ecoansiedade) e de estresse pós-traumático vivenciado por pessoas afetadas por eventos extremos. “A ansiedade climática está muito associada ao medo do futuro, principalmente entre os mais jovens. É uma compreensão de que o mundo está muito mais difícil e o futuro incerto por conta das mudanças no clima”. 

As pesquisas científicas cumprem um importante papel ao mapear riscos, antecipar surtos de doenças e propor soluções para minimizar danos, especialmente entre as populações mais vulneráveis. A circulação qualificada de informações — e a própria divulgação científica — é essencial para ampliar a conscientização pública e fortalecer a atuação de gestores e profissionais da saúde.  

Mariana Vale defende que o conhecimento produzido precisa chegar às políticas públicas e à sociedade como um todo. Investir em ciência, comunicação e educação é, portanto, parte central da resposta à crise climática e de seus múltiplos efeitos sobre os direitos humanos.